domingo, 22 de março de 2015

Tábua Esmeraldina

Tábua Esmeraldina
É verdade! É certo! É a verdade toda!
O que está embaixo é como o que está em cima,
o que está em cima é como o que está embaixo,
para que os milagres do Uno se realizem.
Assim como todas as coisas se fizeram do Uno
através de uma mediação,
todas elas nasceram desse Uno por transmissão.
O seu pai é o sol,
a sua mãe é a lua,
o ar as teve em seu ventre,
e a sua ama foi a terra.
O pai de todos os talismãs é onipresente no mundo inteiro.
Sua força permanece imaculada quando é usada na terra.
Separa, com grande amor e profunda visão interna e sabedoria,
a terra do fogo, o que é delicado do que é duro, denso e solidificado.
Da terra sobe ao céu, e de lá desce novamente à terra, adquirindo,
assim, para si, a força do que está em cima e do que está embaixo.
Assim possuirás a glória do mundo todo,
e por isso toda a treva fugirá de ti.
Essa é a força mais poderosa de todas as forças,
porque vencerá tudo o que é mole
e penetrará tudo o que é duro.
Assim o mundo foi criado. E dele se originarão, do mesmo modo,
criações maravilhosas.
Por isso fui chamado Hermes,
o três vezes grande, porque possuo os três aspectos da
doutrina de sabedoria do mundo inteiro.
Completo está o que eu disse com referência à preparação do ouro.
Texto da Tábua Esmeraldina, atribuída a Hermes Trismegisto.

terça-feira, 17 de março de 2015

Participação dos Pontos de Cultura no Todos por Pernambuco

Prezados(as),

Segue o ofício convite aos Pontos de Cultura do estado de PE, vamos comparecer e levar o máximo de artistas e produtores culturais para os encontros que ainda faltam: 


CONVITE
Participação dos Pontos de Cultura no Todos por Pernambuco
Todos por Pernambuco é um Ciclo de seminários regionais promovido pelo governo do estado para escutar a população de cidades da Região Metropolitana do Recife e do interior do Estado.
O primeiro será nesta sexta-feira (13), em Araripina, nas instalações da Escola Técnica Estadual Pedro Muniz Falcão, reunindo representantes do poder público e da sociedade civil organizada de várias cidades vizinha. A programação segue abaixo:
Calendário Todos por Pernambuco 2015
Cidades
Data
Instituição
Endereço
*Araripina
13/mar
Escola Técnica Pedro Muniz Falcão
Rua Projetada, S/N, Bela Vista.
*Petrolina
14/mar
Escola Técnica do SENAI
Avenida Mossenhor Ângelo Sampaio, 267, Areia Branca.
*Salgueiro
15/mar
Instituto Federal de Execução, Ciência e Tecnologia.
BR 232, Km508, sentido Recife – Zona Rural
*Floresta
19/mar
Instituto Federal de Execução, Ciência e Tecnologia.
Rua Projetada, S/N, Caetano
*A.   Ingazeira
20/mar
Instituto Federal de Execução, Ciência e Tecnologia.
Rua Edson Barbosa de Araujo, S/N
*Arcoverde
21/mar
Autarquia de Ensino Superior – AES / EREM Vitoriano Freire
AESA – Rua Gumercindo Cavalcanti, nº 420
Surubim
09/abr
Escola Técnica Antônia Arruda de Freitas
Rua Antônio Heráclito do Rego, S/N, Centro
Garanhuns
10/abr
Hotel Tavares Correia
Avenida Rui Barbosa, 296 – Heliópolis
Caruaru
11/abr
FAFICA – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
Av. Azevedo Coutinho, S/N, Petrópolis
Timbaúba
23/abr
Escola Técnica Miguel Arraes de Alencar.
Rodovia PE 82 – S/N – Loteamento Sapucaia
Palmares
24/abr
Autarquia Educacional da Mata Sul (FAMASUL)
BR 101 Sul, KM 186, Campus Universitário
Recife
29/abr
Centro de Convenções
Professor Andrade Bezerra, s/n, Salgadinho - Olinda
(*Cidades já realizadas )
Sabendo da importância dos Pontos de Cultura e suas ações no estado, convidamos a todos para participarem desse momento importante de construção das políticas culturais.

Todos por Pernambuco vai ser realizado no primeiro semestre de 2015 para a primeira rodada de escutas para que se possa priorizar as ações que serão implementadas nos próximos quatro anos. Durante os seminários, os cidadãos e a sociedade vão debater e apresentar diretamente aos membros do Governo, as necessidades e problemas específicos de cada região.
Nessa agenda os integrantes da equipe do Cultura Viva estarão na caravana junto com o excelentíssimo senhor Governador Paulo Câmara e o senhor Secretario de Cultura Marcelino Granja, e após a rodada de debates, a proposta é que possamos sentar com os Pontos de cada região visitada e realizar uma escuta direta com as demandas de cada um. Nossa equipe estará entrando em contato para mobilizar e construir essa troca de saberes.
Lembramos que nessa agenda não será oferecida estrutura logística de transporte e de hospedagem.
Ressaltamos a importância da participação de cada Ponto de Cultura, a fim de desenvolver o nosso Plano de Ação para o próximo período.
Atenciosamente,
Rafael Buda
Coordenador Cultura Viva
Coordenação
Programa Cultura Viva   
FUNDARPE- Rua da Aurora, 463/469, Boa Vista, Recife - PE; 81 3184.3013/14
pontosdeculturape.fundarpe@gmail.com
http://www.fundarpe.pe.gov.br/

quinta-feira, 12 de março de 2015

Quanto vale a música tradicional?

Quanto vale a música tradicional?

por Rodrigo Caçapa.
Qualquer reflexão ou diálogo a respeito da música tradicional do Nordeste brasileiro esbarra imediatamente no problema da própria denominação do objeto. Música de tradição oral, música tradicional, música de rua, música de terreiro, música regional, música de raiz, música folclórica, ou cultura popular. Nenhum desses termos é capaz de abarcar a imensa diversidade estética desse universo, nem dar conta das particularidades históricas e da complexidade dos contextos culturais nos quais essas músicas são cultivadas.
Seja qual for o termo utilizado, a intenção primeira dessa classificação é opor essa música àquela relacionada diretamente à indústria fonográfica e aos meios de comunicação de massa (a tal da música popular), e ao universo da chamada música erudita (ou música “culta”), ligada à tradição ocidental, à educação formal e ao mundo acadêmico. Ao mesmo tempo, procura associar essas expressões musicais às camadas sociais mais desfavorecidas, formadas em sua maioria por negros, índios, mulatos, caboclos e seus descendentes.
Mesmo que consideremos natural a relativa ineficiência desses termos e aceitemos seu uso, não podemos esquecer que esses podem ser empregados com intenções muito diversas, seja para justificar e manter o histórico abismo social, econômico e cultural do país, seja para tentar compreender as suas particularidades e, a partir daí, questionar a imposição de limites rígidos entre essas expressões musicais e, consequentemente, entres os indivíduos e grupos sociais que as produzem.
Se essas denominações fizeram muito sentido durante parte do século passado – particularmente no momento em que a indústria fonográfica e o rádio estavam nascendo ou engatinhando, e no qual a música erudita brasileira ainda não tinha incorporado tantos elementos da música de tradição oral, como viria a ocorrer a partir dos anos 1920, na obra de compositores nacionalistas como Villa-Lobos – hoje, em pleno 2014, a realidade nos obriga a repensar seus significados e desdobramentos.

“Imaginar que o universo da música tradicional existe como algo alheio ou à margem do mercado cultural é um equívoco.”

Imaginar que o universo da música tradicional existe como algo alheio ou à margem do mercado cultural é um equívoco. É evidente que grande parte dos artistas tradicionais não produz a partir da motivação do lucro, do sucesso e da fama. Os impulsos certamente são outros, muito mais próximos das funções primordiais da música: a celebração coletiva, a expressão pessoal, a diversão, a identidade cultural, a religiosidade, ou apenas a necessidade visceral de cantar, tocar e dançar. Ainda assim, todas as formas de música tradicional estão inseridas num determinado nicho do mercado cultural (seja o mais elementar ou o mais complexo), um ambiente que possibilitou a sua criação, difusão e sobrevivência. Ademais, algumas dessas formas musicais foram além, mantendo pontos de contato com segmentos de mercado diferentes daqueles onde surgiram originalmente.
O que ocorre é que os ambientes nos quais a música tradicional comumente se estabelece funcionam de modo diverso dos modelos de mercado associados aos meios de comunicação de massa e à indústria fonográfica. Naqueles ambientes também existem as relações de troca, as relações entre artistas profissionais (e também entre amadores e aprendizes), existem os custos para realizar uma apresentação e a necessidade de divulgar essa realização, a necessidade de um espaço, existem os construtores de instrumentos, alguém para organizar tudo, existe a especialização e também o conhecimento abrangente, além do indivíduo ou o grupo de pessoas que contribui pra cobrir os custos. As necessidades básicas não são tão diferentes das que se observa no mercado de música popular, mas as soluções para essas necessidades é que costumam serem outras. Se isso não é um mercado de bens simbólicos (um mercado informal, é verdade) o que mais seria?
É verdade que a dinâmica social e econômica de alguns desses ambientes onde a música tradicional se estabeleceu têm se transformado rapidamente ao ponto de dificultar ou inviabilizar a sobrevivência dessa forma de expressão. Ainda assim, o maior problema talvez não seja a configuração desses segmentos de mercado onde a música tradicional acontece historicamente, mas as relações entre os músicos tradicionais e os ambientes da música popular e erudita, da comunicação de massas e da gestão pública, é que costumam ser muito mais conflituosas e desfavoráveis aos primeiros.
Este é o ponto: o valor de mercado que um artista ou sua obra alcança perante um determinado segmento da sociedade está diretamente associado ao valor simbólico que esse mesmo segmento social lhe atribui. Em seu ambiente original, a relação entre música tradicional e mercado é relativamente equilibrada: uma comunidade interessada em produzir e fruir da sua música tradicional mobiliza seus próprios recursos e negocia suas relações de trabalho, no limite de suas capacidades, e de acordo com a importância (muitas vezes, central) que essa forma de expressão ocupa no seu cotidiano.

“Qual o valor simbólico que a música tradicional do Nordeste representa para grande parte da população de classe média e para a elite econômica das grandes cidades da região e do país?”

Qual o valor simbólico que a música tradicional do Nordeste representa para grande parte da população de classe média e para a elite econômica das grandes cidades da região e do país? E para a imensa maioria da classe política, dos gestores públicos e dos grandes veículos de comunicação? Essa música representa verdadeiramente algo mais do que uma relação superficial com uma estética considerada ingênua e primitiva, e com a qual se entra em contato apenas uma vez ao ano, por força do hábito? Vale mais do que um mero ingrediente dos antigos ideais nacionalistas? Tem outra função além de servir às peças publicitárias para turistas verem?
Em tempos de interferência autoritária do poder público em manifestações tradicionais seculares, vale perguntar: o desequilíbrio entre o valor simbólico oficialmente atribuído à música tradicional e o seu real valor de mercado não poderia ser compreendido como um reflexo do tratamento historicamente dispensado pelo segmento mais abastado da sociedade brasileira aos estratos sociais mais desfavorecidos?

Realidades do Maracatu Rural para além do marketing cultural

Realidades do Maracatu Rural para além do marketing cultural

Este é um pequeno relato sobre experiências de um grupo de Maracatu Rural de Pernambuco em polos de carnaval de algumas cidades da Zona da Mata Norte. Apesar de ser um relato sobre vivências recentes e específicas de apenas um grupo, elas têm um caráter mais amplo e se reproduzem de forma sistemática na relação do Estado com outras agremiações de Maracatu Rural. O texto vem expor a maneira humilhante e abusiva com que alguns governos municipais tratam os brinquedos de maracatu durante o ano e, principalmente, no carnaval. Uma realidade bem diferente da que é proposta nos planos de marketing e publicidade para venda do Maracatu Rural como produto cultural pelo mundo afora.
O Maracatu Rural no Carnaval na Zona da Mata
O carnaval de Pernambuco tem hoje na figura do caboclo de lança o seu principal produto de marketing cultural. Na Mata Norte este marketing é, por vezes, excessivo. O caboclo de lança está presente em todos os locais: cartazes, placas, outdoors, nomes de estabelecimentos comerciais e, é claro, na decoração do carnaval das cidades. Diversas prefeituras da Mata Norte vendem seus carnavais tendo o maracatu como principal atração cultural. Ironicamente, apesar do uso midiático intenso da figura-ícone do Maracatu Rural, o orçamento defasado das prefeituras para os grupos e a forma como os mesmos são tratados expõem a crueldade desta relação de exploração entre prefeituras e grupos culturais.

“[...] um maracatu com mais de 80 componentes, que viaja quilômetros com um elenco formado de brincantes das mais variadas idades entre crianças e idosos, chega a receber entre R$ 200,00 e R$ 300,00 por apresentação”

Para se ter uma ideia, um maracatu com mais de 80 componentes, que viaja quilômetros com um elenco formado de brincantes das mais variadas idades entre crianças e idosos, chega a receber entre R$ 200,00 e R$ 300,00 por apresentação nas cidades de Tracunhaém, Buenos Aires, Araçoiaba, entre outras. As exceções são Recife, Olinda, Nazaré da Mata, Aliança e algumas poucas cidades cujos cachês são mais altos. No Recife, estes bons cachês estão diretamente relacionados com as diferentes categorias de agremiações que competem durante o carnaval. Apenas o seleto Grupo Especial (formado por apenas seis agremiações de Maracatu Rural), o Grupo I (formado por dezessete agremiações) e o Grupo II (formado por dezenove agremiações) conseguem acessar as apresentações na região metropolitana do Recife. Já o Grupo de Acesso (formado por dezoito agremiações) e os Grupos Aspirantes (todas as outras agremiações restantes) têm que se contentar com os cachês irrisórios propostos pelas prefeituras do interior. Este texto foca na realidade destes dois últimos grupos. É importante lembrar que existem em torno de 104 grupos de Maracatu de Baque Solto no Estado.
Não raro os cachês previamente acertados com os maracatus são diminuídos no ato do pagamento, quando das suas apresentações nos palanques principais das cidades. Para onde vai o dinheiro inicialmente acertado, ninguém sabe. Isso poderia ser parte de uma investigação do Ministério Público para encontrar possíveis nichos de corrupção. Como exemplo real, no carnaval deste ano a Prefeitura de Bom Jardim acertou um cachê de R$ 1.200,00 com os grupos de maracatu. Findas as apresentações, cada grupo recebeu um cheque pré-datado de R$ 500,00 para depois do carnaval. Os outros R$ 700,00 não foram recebidos. Vale salientar que a espera na fila para se apresentar no palanque da cidade foi em média de quatro horas e meia. O mesmo se deu com a Prefeitura de Paudalho que prometeu pagamento de um cachê não revelado logo após o carnaval mas, passados os festejos de momo, o dinheiro ainda não caiu nas contas dos maracatus.

“Não só os cachês humilhantes expõem a desvalorização estatal pela cultura do maracatu.”

Não só os cachês humilhantes expõem a desvalorização estatal pela cultura do maracatu. A forma de tratamento aos grupos também é desrespeitosa e recheada de preconceito por conta da origem humilde do folguedo. Há um paralelo no tratamento dado aos trabalhadores da cana e o tratamento dado aos maracatus onde os códigos de exploração são reproduzidos na forma de desprezo. Como exemplo real, a Prefeitura de Buenos Aires sempre dá prioridade aos blocos de trio elétricoem detrimento à apresentação dos maracatus que são obrigados a esperar horas pelo encerramento do desfile destes blocos. Isso se dá ao mesmo tempo em que Buenos Aires se intitula a cidade do caboclo de lança. Há ainda o caso da prefeitura de Itaquitinga, que negou a apresentação de um grupo de maracatu porque o mesmo chegou três minutos além do horário previsto para o fechamento do palanque e friamente noticiou que o grupo deveria retornar no outro dia enquanto abria passagem para um poderoso trio elétrico. Não imagina a secretaria de cultura deste município a difícil logística de deslocamento desta agremiação pelas estradas da Mata Norte.
Por essas e outras é extremamente importante expor esses fatos que poucos conhecem, mas que todo brincante do Maracatu Rural está cansado de vivenciar durante todo o ano. Apesar de ser a menina dos olhos na publicidade do carnaval de Pernambuco, a cultura do Maracatu Rural apenas sobrevive pois inexistem políticas públicas que garantam a autonomia econômica para esse imenso contingente populacional que forma os mais de cem grupos do estado. O que existe, infelizmente, são apenas esmolas.